Brasil

Como primeira colónia portuguesa a conquistar a independência, a história da imprensa periódica colonial brasileira diferencia-se por abranger um período extremamente curto e apresentar-se singular no quadro do império português. Na verdade termina (1822) quando se abre um horizonte para o início das histórias das outras colónias aquando da revolução liberal portuguesa de 1820. Tal singularidade decorre de um acontecimento igualmente único nas histórias de qualquer império europeu moderno. Referimo-nos à decisão inédita, aquando da primeira invasão napoleónica, de mudança da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro em 1807 onde chegou em Janeiro de 1808. Facto que em 1815 conduziria à elevação do Brasil a Reino, unido aos Reinos de Portugal e dos Algarves, e posteriormente influenciaria decisivamente o processo de independência. A monarquia portuguesa passava a estar sediada na então mais importante colónia do império. No que à imprensa respeita teve uma consequência imediata. Até então a criação de imprensa local, periódica ou não, estava proibida em território brasileiro como acontecia nos outros espaços coloniais portugueses. Após a instalação da Corte logo em Setembro de 1808 passou a publicar-se bissemanalmente a Gazeta do Rio de Janeiro, para dar continuidade à comunicação pública com os súbditos e afirmar-se no panorama da imprensa oficial das potências "europeias", noticiando e comentando os acontecimentos internacionais prementes, sobretudo na Europa e nas Américas convulsionadas. Isto é, o que era proibido nas colónias passava a ser obrigatório na sede da Monarquia. Notável é igualmente o facto de ainda em Junho desse ano (antes da Gazeta) ter sido um brasileiro, Hipólito da Costa, a publicar o primeiro periódico de língua portuguesa no exílio (Londres), de ideias liberais que afrontavam a monarquia absoluta portuguesa e crescentemente congregando ideais nacionalistas brasileiros. É por isso com propriedade considerado o primeiro jornal brasileiro. Na verdade, o Correio Braziliense ou Armazém Literário de Hipólito da Costa inaugurava uma longa tradição de imprensa em língua portuguesa no exílio, muita dela precisamente da iniciativa de intelectuais das colónias ou em que as questões coloniais tinham presença significativa.

Sobretudo desde os primórdios da ditadura militar instaurada em 1926 e até à revolução portuguesa de 1974, essa imprensa retomaria o seu elo histórico ao Brasil, ao elege-lo como um dos lugares de acolhimento da dissensão política (colocar link para a imprensa de exílio). Uma história que tinha precedente, de resto, no período das lutas liberais, um ciclo que durou até à Guerra Civil portuguesa de 1832-1834. No que ao Brasil colonial respeita sabemos que o marco de 1822, que escolhemos para terminar esta pequena amostra, na verdade esconde uma história de libertação política que continua até à abdicação de D. Pedro I do Brasil, IV de Portugal, e ao período da Regência, como a imprensa desse período bem espelha. Noutra perspectiva, ainda há um longo caminho a percorrer, sendo para ele a imprensa uma fonte imprescindível, até termos um quadro informado da profunda influência (e circulação efectiva de pessoas e projectos) do Brasil enquanto referente de libertação política e cultural em diversas colónias portuguesas. De igual modo, cabe aprofundar o seu lugar nos projectos de reconstrução não colonial do espaço político do império português, que sobretudo na primeira metade do século 20 motivou diversas iniciativas de imprensa político-cultural. Finalmente, no que à sobrevivência das colecções respeita, as condições políticas singulares da história desta imprensa ditaram que seja sobretudo na Brasil que as colecções se encontrem. Esta amostra, assim, visa espelhar outra abordagem da cooperação, aquela que permite que em Portugal existam cópias microfilmadas de colecções completas cujos originais se encontram em bibliotecas brasileiras, sobretudo na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e no Real Gabinete Português de Leitura.