São Tomé e Príncipe

Em 3 de Outubro de 1857 circulava a primeira edição do Boletim Official do Governo da Província de S. Thomé e Príncipe. Em especial ao longo do século XIX, o boletim oficial desempenhou diversas funções informativas, divulgava a legislação e ordens oficiais, disseminava notícias locais e internacionais e trazia conteúdos culturais.

Passados 12 anos da implementação do boletim oficial, com o jornal Equador, Semanário Agrícola, Comercial e Científico (1869) emergiu em São Tomé e Príncipe a imprensa não-oficial, por iniciativa dos colonos europeus.

Embora a história da imprensa independente de São Tomé e Príncipe durante a Monarquia Constitucional esteja por fazer, alguns indicadores permitem saber que os jornais tiveram um perfil político e a sua propriedade esteve vinculada aos interesses da agricultura e do comércio.

Ao longo do período republicano, a imprensa em São Tomé e Príncipe afirmou-se e estruturou-se acompanhando os três principais grupos sociais: europeus comerciantes e empregados do comércio e da agricultura, a elite nativa de STP e europeus proprietários de terra e dirigentes públicos da colónia.

O primeiro segmento da imprensa no período republicano é o dos jornais ligados aos europeus comerciantes de média dimensão e empregados. O Africano, A Defesa e A Desafronta compõem este grupo, caracterizado por ser crítico da administração local e por ter uma posição dúbia em relação aos africanos.

O segundo segmento da imprensa republicana foi o dos jornais africanos, propriedade dos nativos e defensor dos seus interesses: Folha de Annuncios. Semanário Político, Literário e Noticioso, o qual no seu n.º 03 passou a chamar-se A Verdade; A Liberdade e O Combate constituíram a imprensa indígena em STP.

O terceiro sector da imprensa caracterizou-se por jornais que eram propriedade de europeus ligados ao poder político e económico e que suportavam o governo local. Foram estes O Modesto, O Jornal e A Colónia.

Com o fim de A Desafronta e a suspensão de O Combate, ambos em 1925, São Tomé e Príncipe esteve sem jornais por cerca de um ano. O Equador administrado e editado por Hygino J. Assumpção circulou entre 1926-27 e apesar de apoiar o governo, foi afetado pelas leis que restringiam a imprensa.

Refira-se que os arquivos e a literatura não registam a existência de qualquer jornal até 1947, quando a União Nacional de São Tomé tornou-se proprietária do quinzenário cultural, noticioso e literário A Voz de S. Tomé. Suportar os projectos do império e as suas acções locais foram as funções desempenhadas por este jornal ao longo dos seus 27 anos de existência. Como noutras colónias, o Estado Novo apropriava-se da imprensa para divulgar as suas políticas.

The first issue of the Boletim Official do Governo da Província de S. Thomé e Príncipe was published on October 3, 1857. During the nineteenth century, the official bulletin carried out various informative functions, diffusing legislation and official orders. It disseminated both local and international news as well as cultural subjects.

Twelve years after the implementation of the official bulletin, european settlers started the newspaper Ecuador, Semanario Agrícola, Comercial y Científico (1869), and thus, private, unofficial press was inaugurated in S. Tomé and Príncipe. Although the history of the independent press in Sao Tome and Principe during the Constitutional Monarchy is to be completed, some indicators show that local newspapers had a political profile and that they were owned by people linked to the interests of agriculture and commerce.

Throughout the republican period, the press in São Tomé and Príncipe was connected to three main social groups: European merchants and employees of commerce and agriculture; the native elite of STP; and European landowners and public leaders of the colony.

The first segment of the press in the Republican period is linked to European medium-sized traders and employees. O Africano, A Defesa e A Desafronta comprise this group, characterized by being critical of the local administration and having a dubious position towards Africans.

African newspapers, owned by natives, focused on their interests, and represented the second segment of the republican press. They were: Folha de Annuncios. Political, Literary and News Weekly, which was continued by A Verdade; A Liberdade and O Combate.

The third sector of the press belonged to Europeans linked to political and economic power and supporting the local government. These were O Modesto, O Jornal and A Colónia.

After the end of A Desafronta and the suspension of O Combate, both in 1925, no new newspaper appeared in São Tomé e Príncipe for about a year. O Equador, directed and edited by Hygino J. Assumption, circulated between 1926-27, and even if it supported the government, it was affected by censorship.

It should be noted that local archives and literature do not record the existence of any newspaper in S. Tome until 1947, when the National Union of Sao Tome became the fortnightly A Voz de S. Tomé, which published current news, cultural articles and literary pieces. During its 27 years of existence this periodical supported the imperial project and its local actions.

As in other colonies, the Estado Novo appropriated the press of S. Tomé to publicize its policies.



































































A Liberdade: fundado por um grupo de naturais

A Liberdade, um jornal fundado por um grupo de naturais, foi editada por Josué de Aguiar entre 1919 e 1923. Nela relatavam-se perseguições devido às suas denúncias contra o curador António Aguiar (n.º 19, Maio de 1920), o que fez com que fosse impresso em Luanda e, posteriormente, em Lisboa. Teve como foco principal a defesa dos africanos, naturais e serviçais, e a luta política contra a administração local, tendo destacado "o alargamento das terras" como "modo mais comum de se roubar terras aos indígenas e aos angolares", no n.º 22, de Dezembro de 1920.

São Tomé, A. 2, n.º 19 (4 Maio 1920) - A. 3, n.º 28 (17 Fev. 1923)

Semanal

Editor: Josué Aguiar

A Liberdade was founded by a group of people born in S. Tomé. Focused on the defence of Africans, natives of S.Tome and servants, carrying on a political fight against the local colonial administration.

São Tomé, A. 2, n.º 19 (May 4, 1920) - A. 3, n.º 28 (Feb. 17, 1923)

Weekly

Editor: Josué Aguiar


BNP - (cota J. 1400 A. / F. 3786) - A. 2, n.º 19 (4 Maio 1920) - A. 3, n.º 28 (17 Fev. 1923). - Ficha Bibliográfica

A Voz de São Tomé

Publicado entre Julho de 1947 e Abril de 1974, teve como director Martinho Pinto da Rocha. O arquipélago esteve durante 14 anos sem qualquer imprensa para além do boletim oficial, e foi a necessidade de propagandear o Estado Novo, as suas políticas e a acção colonial em África, que levaram o partido único do regime, a União Nacional, a editar A Voz de S. Tomé. No n.º 6, de Outubro de 1947, pode-se ler que a "obra de fomento que nestes últimos dois anos se tem realizado nesta colónia é um exemplo frisante da actividade que se tem desenvolvido em todo o território imperial". As posições políticas de Salazar e de Portugal eram apontadas pelo jornal no n.º11, de Dezembro de 1947, mormente a política anticomunista, a aliança com a Inglaterra, a solidariedade com o Brasil, e a aproximação aos Estados Unidos.

A. 1, n.º 1 (16 Jul. 1947)-A. 26, n.º 1130 (23 Abr. 1974)

Director: Rev. Martinho Pinto da Rocha

A Voz de S. Tomé - A. 1, no. 1 (July 16, 1947)-A. 26, no. 1130 (Apr. 23, 1974) – directed by Rev. Martinho Pinto da Rocha. Organ of the government party União Nacional. Its function was to (promote) Estado Novo's policies and colonial action in Africa.

A. 1, n.º 1 (July 16, 1947)-A. 26, n.º 1130 (Apr. 23, 1974)

Director: Rev. Martinho Pinto da Rocha


AHNSTP - Enviou a digitalização de diversos n.ºs entre 1951 e 1965 – cota (?), têm colecção completa (?) – colecção 1947-1974 (com falhas) – cota STP-74

HML - n. 1 (16 Jul. 1947)-n.º 282 (13 abr. 1957); 284-1130 (23 abr. 1974), falta n.º 283

BNP - J. 1503 V. – colecção completa sem acesso. Microfilme

Folha de Annuncios, Semanário Político, Literário e Noticioso | A Verdade, Semanário Democrático Independente para a Defesa dos Interesses da Província


Folha de Annuncios, Semanário Político, Literário e Noticioso - Apresentava-se referindo que: "Os nativos desta ilha não têm outra ambição que não seja lutar pela liberdade, igualdade, fraternidade e pelo interesse moral e material da terra que os viu nascer". No n.º 3, o Folha de Annuncios passa a chamar-se A Verdade, Semanário Democrático Independente para a Defesa dos Interesses da Província. Teve como proprietário e editor o nativo Ezequiel Pires dos Santos Ramos. As temáticas eram, sobretudo, políticas, como a discussão do futuro económico da província ou as reivindicações para a população ilhéu. A destruição da tipografia africana levou ao fim do jornal, e os assalariados europeus foram acusados do seu empastelamento a mando do governador.

São Tomé, n.º 1, (10 jul. 1911) - a. 1, n.º 2 (20 Jul. 1911)

Director: Ezequiel Pires dos Santos Ramos

Folha de Annuncios, Semanário Político, Literário e Noticioso - Since no. 3, the Folha de Annuncios changed its name to A Verdade, Semanário Democrático Independente para a Defesa dos Interesses da Província. Owned and directed by the native Ezequiel Pires dos Santos Ramos. The newspaper's themes were essentially political, such as the discussion of the province's economic future or pleas for social reforms in favour of the natives (see no. 6, August 1911). Its typography was destroyed and the periodical had to suspend publication in 1912.

São Tomé, n.º 1, (july 10 1911) - a. 1, n.º 2 (july 20 1911)

Director: Ezequiel Pires dos Santos Ramos


BNP - Folha de Annuncios - a. 1, no 1 (10 jul. 1911) - a. 1, no 2 (20 Jul. 1911) - http://purl.pt/24220

BNP - A Verdade - J. 3239//2 M - nº 3 (27 Jul. 1911)-A. 1, nº 17 (29 Ag. 1912) - http://purl.pt/24221 - Ficha Bibliográfica

Jornal de São Thomé e Príncipe

1881-84

Proprietário e redactor: António Gomes da Silva Sanches

1881-84

Owner and Editor: António Gomes da Silva Sanches


BNP - 786/54 A. - Notas: A. 1, n. 10 (18 Nov. 1881) m.e. - Ficha bibliográfica

BGUC - B-27-22 - Ano 1, n.º 2 (1881) - Ano 2, n.º 23 (1884) – com faltas

O combate: jornal semanal: defensor dos interesses da Província, e dos oprimidos, sem distinção de cor, raça ou hierarquia

Integra a imprensa republicana e faz parte dos jornais africanos propriedade dos nativos e defensores dos seus interesses. Augusto Gamboa, intelectual e ativista político, foi deputado eleito em 1922 e crítico dos administradores da colónia. O jornal foi suspenso pelo governador Eugénio Soares Branco em Abril de 1925.

S. Tomé, Ano 1, n.º 1 (21 mar. 1925) – Ano 1, n.º 6 (25 abr. 1925)

Edição, propriedade e administração: João Carragoso; Redactor principal Augusto Gamboa

O combate: jornal semanal: defensor dos interesses da Província, e dos oprimidos, sem distinção de cor, raça ou hierarquia is an example of Republican and African press, owned by natives with the collaboration of those that defended their interests. Augusto Gamboa, intellectual and political activist was elected deputy in 1922, and he strongly criticized the colonial administration. The newspaper was suspended by Governor Eugénio Soares Branco, in April 1925.

S. Tomé, Ano 1, no. 1 (Mar. 21, 1925) – ano 1, no. 6 (Apr. 25, 1925)

Edited, owned and administrated: João Carragoso; Editor in chief: Augusto Gamboa


BGUC - Cota G.N.-41-2

O Jornal

O Jornal, dirigido por Egydio Inso, foi responsável pela implantação dos serviços de agricultura de STP. Trimensal, o periódico trouxe muitos conteúdos sobre a agricultura e os problemas urbanos, e sempre apoiou o governo da colónia. No n.º 3, de Novembro de 1922, deixava a crítica de que "na colónia está tudo por fazer [...]. Tudo o que há é uma vergonha, uma miséria". A coluna Palavras d'um Patrão foi sintomática dos conflitos entre europeus, e a Associação dos Empregados do Comércio e da Agricultura foi atacada no n.º 12, de Fevereiro de 1923. Tendo durado um ano, a sua última edição saiu em Setembro de 1923 e justificava o seu fim com a partida de Egydio Inso para Lisboa.

São Tomé, A. 1, n.º 1 (15 Out. 1922)-A. 1, n.º 23 (5 Set. 1923)

Trimestral

Director: Egydio Inso

São Tomé, A. 1, no. 1 (Oct.15, 1922)-A. 1, no. 23 (Sept. 5, 1923)

Trimestral

Directed by:Egydio Inso and Agostinho Caetano Correia Afonso


BNP - cota J. 3601//14 G / F. 3791) - A. 1, n.º 1 (15 Out. 1922)-A. 1, n.º 23 (5 Set. 1923) - Ficha bibliográfica

O Trabalho

O Trabalho, um quinzenário fundado em 1924 pela Associação dos Empregados do Comércio e da Agricultura de São Tomé e Príncipe (AECA), foi irregular e teve apenas sete números na sua primeira série, sendo retomado em 1927 com o n.º 8. Como outros periódicos da época, foi alvo da censura e da perseguição do Estado Novo, tendo sido proibido em 1934. "A suspensão do nosso jornal" foi o título da página 6 do n.º 23, em Abril de 1933. O n.º 28, de Julho de 1933, explicava as dificuldades impostas pela censura. Na edição n.º 43, de Março de 1934, anunciava-se a delegação de São Tomé e Príncipe do Partido Nacional Africano e publicava-se a lista dos seus delegados nas vilas. A edição n.º 47, de 20 de Maio de 1934, anunciava a sua suspensão.

S. Tomé: [193 ]-1934

Quinzenal

Directores: Armindo Almeida Pires; José Castro; Júlio Antunes dos Santos

Founded by the Association of Trade and Agriculture Employees of São Tomé and Príncipe (AECA). Fortnightly, only published seven issues during its first series, being resumed in 1927 with no. 8. The third series dates from 1933, with no. 19, published on February 15, 1933, under direction of Armindo Almeida Pires. It suffered censorship and persecution by the Estado Novo, which was the cause of its ephemerality. "The suspension of our newspaper" was the title of an article in no. 23 (April 1933). The no. 28 (July 1933) explained the difficulties imposed by censorship. No. 43 (March 1934) announced the Sao Tome and Principe delegation at the African National Party, and a list of its delegates was published in towns. No. 47 (May 20, 1934) announced the newspaper's suspension.

S. Tomé: [193 ]-1934

Fortnightly

Directors: Armindo Almeida Pires; José Castro; Júlio Antunes dos Santos


BNP - 2999//9 G./. F3791 – n.º 28 (15 Jul. 1933) – n.º 47 (20 Maio 1934)

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