Macau

A especificidade do estatuto de Macau configurou uma imprensa com características peculiares. Quem a quiser equacionar, deverá conhecer, além dos seus próprios anais, a história de Portugal, a de Goa, território do qual Macau dependeu até 1845, e a da China, que esteve sempre omnipresente. Este cadinho político e cultural apresentava contradições inequívocas porquanto estavam em causa interesses e mundividências frequentemente contraditórias.

No domínio da política, desfilam pela páginas dos periódicos macaenses assuntos diversificados como o relacionamento entre a comunidade chinesa e a portuguesa, o confronto entre os jornalistas mais críticos e a censura - o qual foi por vezes dirimido em tribunal, ou teve como epílogo a repressão cega -, as duas Guerras do Ópio, a génese e a evolução da cidade de Hong Kong, a interacção de Macau com as autoridades de Goa e da metrópole, a criação de jornais com o objectivo expresso de eleger pessoas para cargos de natureza oficial, a opção tardia de tornar Macau um porto franco, a questão dos coolies, a implementação do ideário republicano e a II Guerra Mundial. No âmbito da economia, somos confrontados com notícias sobre a legislação em vigor, as mercadorias que se importavam e se exportavam, bem como os respectivos preços, as reivindicações dos agentes comerciais, o aparecimento das instituições de crédito e das companhias de seguros. Notícias de carácter cultural são frequentes em todos os jornais: a literatura e a linguística com os seus expoentes máximos - entre os quais se encontram, a título de exemplo, Camões, Camilo Pessanha, Wenceslau de Moraes, Robert Morrison e Samuel Wells Williams -, os meandros complexos da filosofia e da etnografia chinesa, o teatro, a música, a arte, a história de Macau, da China e de Portugal, a religião, as ciências exactas, as múltiplas metamorfoses da indústria tipográfica, entre outros assuntos. A educação constituiu igualmente tema recorrente, sendo os seus primeiros passos oficiais e a sua evolução descritos com ênfase.

Destacamos ainda os jornais de língua inglesa, que se publicaram, no século XIX, alternadamente em Macau, Hong Kong e Cantão, visto que os seus editores apenas tinham autorização para permanecer nesta última cidade seis meses por ano: The Canton Register, The Canton Miscellany, The Chinese Courier and Canton Gazette, The Evangelist and Miscellanea Sinica e The Canton Press. Isentos de censura - estatuto que foi objecto de amplos protestos por parte dos editores dos jornais macaenses -, são periódicos de extrema raridade e não fazem parte dos acervos das bibliotecas e arquivos quer de Macau, quer portugueses.

Daniel Pires: apresentação e notas sobre os jornais.

The specificity of Macau's statute has created a press with peculiar characteristics. Whoever may want to weigh it, should also know something about (apart from its own annals i.e.), the history of Portugal and of Goa, territory to which Macau was dependent until 1845, and the history of China, which was always present since the beginning. This political and cultural corner displayed evident contradictions, for many interests and different perspectives upon the world were questioned.

Regarding politics, many different subjects have enrolled in the pages of Macanese newspapers: the relations between the Chinese and the Portuguese communities, the confrontation among critical journalists and censorship – which was, many times, nullified in courts or had as result blind repression – the two Opium Wars, the genesis and evolution of the city of Hong Kong, the interaction of Macau with Goa's authorities and with Portugal's authorities, the creation of newspapers with the sole purpose of electing people for official positions, the late decision of making Macau a free port, the matter of the coolies, the implementation of republican ideology and the Second World War.

As for the economic matters, we are confronted with news about the legislation in force, the imported and exported goods, as well as their prices, the claims of workers, the advent of credit institutions and insurance companies. Cultural news often appear in every newspaper: literature and linguistics with its greatest creators highlighted (for instance, Camões, Camilo Pessanha, Wenceslau de Moraes, Robert Morrison and Samuel Wells Williams), the complex matters of philosophy and Chinese ethnography, theatre, music, art, history of Macau, China and Portugal, religion, sciences, the many transformations of typographical industry, among other subjects. Education was also a recurrent subject, from its official steps towards its evolution within the Macanese region.

We highlight as well the English-written newspapers, which were published in the 19th century and always in different places: Macau, Hong Kong and Canton. Such happened because editors and publishers only had permission to stay in each city every six months per year: The Canton Register, The Canton Miscellany, The Chinese Courier and Canton Gazette, The Evangelist and Miscellanea Sinica and The Canton Press. Exempt of censorship – statute which was reason for many protests and claims from publishers of Macanese newspapers –, these newspapers are extremely rare to find, for they do not take part of the estates of Portuguese and Macanese libraries and archives.

Daniel Pires: presentation text and notes about the newspapers.



































































Abelha da China

Publicado, em Macau, entre 12 de Setembro de 1822 e 27 de Dezembro de 1823, o semanário Abelha da China foi o primeiro jornal do Extremo Oriente. Retratou com fidelidade o clima de pré-guerra civil existente, em 1822, na cidade de Macau. Duas facções então se digladiaram, representando interesses antagónicos: uma burguesia mercantil extremamente activa, empreendedora, unida em torno do Leal Senado, e uma ala burocrática, autoritária, que tinha o ouvidor e o governador como figuras emblemáticas. Confrontaram-se progressistas e conservadores, tendo a balança pendido para estes últimos, graças à intervenção militar imposta pelo governador de Goa: a força das armas esmagou então a força da razão.

Macau, N. 1 (12 Set. 1822) - n. 67 (27 Dez. 1823); F.P. 110

Semanário

First newspaper of the Far East, it portrayed with accuracy the pre-civil war atmosphere in 1822, in the city of Macau. Two factions had then battled, representing opposed interests: the mercantile bourgeoisie, extremely active and entrepreneur, joined around the Leal Senado, and a bureaucratic group, authoritarian, which had the magistrate and the ruler as emblematic leaders. Progressives and Conservatives had then fought, but the victory laid on the conservative side, thanks to the military intervention imposed by Goa's ruler: the force of weaponry smashed thus the strength of reason.

Macau, No. 1 (Sept. 12, 1822) - no. 67 (Dec. 27, 1823)

Weekly


BNP - BNP (cota principal J. 11 B.) - N. 1 (12 Set. 1822) - n. 67 (27 Dez. 1823); F.P. 110 – Suplemento n.º 43 colecção incompleta? - Ficha bibliográfica

A Colónia: semanário republicano independente

Jornal republicano publicado em Macau, A Colónia foi dirigida, administrada e editada por Rodrigo Marin Chaves. Veio a lume de 4 de Maio de 1918 a 26 de Abril do ano seguinte, totalizando 52 números. A 17 de Agosto de 1918, a edição e a administração passou a pertencer a António Martins da Silva (n.º 16). Publicou textos marcantes do e sobre o poeta Camilo Pessanha e participou na discussão da política da cidade.

Macau, A. 1, n.º 1 (4 Maio 1918) - a. 1, n.º 52 (20 Abr. 1919)

Semanário

Director, administrador e editor: Rodrigo Marin Chaves

A Colónia was a republican newspaper directed, managed and edited by Rodrigo Marin Chaves. It came to light on the 4th May 1918 until the 26th April of the next year, summing 52 editions. On the 17th August 1918, the edition and management changed to the hands of António Martins da Silva (by the 16th edition). It published remarkable texts from and about the poet Camilo Pessanha, and also participated in the political debates of the city.

Macau, Ano 1, no. 1 (May 4, 1918) – Ano 1, no. 52 (Apr. 20, 1919)

Weekly

Directed and edited by: Rodrigo Marin Chaves


BNP - J. 3229/1 M. = A. 1, n.º 1 (4 Maio 1918) - a. 1, n.º 18 (31 Ag. 1919) - Ficha bibliográfica

Os Arquivos de Macau: boletim do Arquivo Histórico de Macau

Publicado, em Macau, entre Julho de 1929 e Janeiro/Junho de 1988, Arquivos de Macau constituíram uma iniciativa a todos os títulos notável. De periodicidade mensal, visava a transcrição de "todos os documentos de interesse histórico regional existentes nos arquivos citadinos, e bem assim os do mesmo género que, por cópia ou originais, se puderem obter nos tombos e bibliotecas da Metrópole, colónias ou do estrangeiro". Tiveram o seu início, em 1929, impulsionados por Telo de Azevedo Gomes, professor do Liceu de Macau. O regresso deste docente à metrópole conduziu à interrupção da revista. Nova série emergiu, dirigida por António Morais Sarmento, a qual, devido à eclosão da II Guerra Mundial, teve uma vida efémera. Sob os auspícios de Luís Gonzaga Gomes, Isaú Santos e Maria Helena Évora, a revista prolongou-se até 1988. De particular relevância foi a transcrição dos principais jornais publicados, no século XIX, em Macau, bem como de documentos fundamentais para a compreensão da história local.

V. 1, n. 1 (Jul. 1929) - s. 4, v. 8, t. 1 (Jan./Jun. 1988)

Mensal

Arquivos de Macau: boletim do Arquivo Histórico de Macau [Archives of Macau: report of Macau's Historical Archive] were a notorious initiative, in every single way. A monthly publication, it aimed for the transcription of "every document of historical interest of each region that existed in the city's archives, as well as those of the same kind, which could be obtained, through copies or original versions, in other archives and libraries of Portugal, colonies or abroad." They began to be published in 1929, started by Telo de Azevedo Gomes, teacher of Macau's High School. As this teacher returned to the mother country, this magazine got interrupted. A new series emerged, directed by António Morais Sarmento, which, due to the beginning of Second World War, had a very short publishing duration. Under the action and influence of Luís Gonzaga Gomes, Isaú Santos and Maria Helena Évora, the Arquivos were extended until 1988. Particularly significant was the transcription of the main published newspapers in the 19th century in Macau, as well as fundamental documents to the understanding of local history.

Macau, V. 1, no. 1 (July 1929)-s. 4, v. 8, no. 1 (Jan./Jun. 1988)


BNP - P.P. 22421 V - P.P. 22504 V - V. 1, n. 1 (Jun. 1929)-s. 4, v. 8, t. 1 (Jan./Jun. 1988); P.P. 22421 - n. 1 (Jun. 1929)-s. 4, v. 8, t. 1 (Jan./Jun. 1988) - Ficha bibliográfica

BGUC - 10-45-7 - V. 1, n. 1 (1929) - s. 4, v. 8, n. 1 (1988)7

AM - http://www.archives.gov.mo/pt/ArquivosDeMacau/

O Eco Macaense: semanario luso-chinez

Tendo tido como proprietário e responsável Francisco H. Fernandes, foi um semanário que iniciou a sua publicação, em 1893, sob a égide de Francisco Hermenegildo Fernandes, proprietário de uma das mais importantes tipografias de Macau, a N. T. Fernandes e Filhos. Ao leme estavam igualmente dois conceituados intelectuais, Pedro Nolasco da Silva e Constâncio José da Silva. Apresentava uma característica inovadora: era publicado em mandarim e em português, visando, deste modo, as duas comunidades hegemónicas no território. Teve colaboração de uma personalidade ínclita, o então médico em Macau e futuro presidente da república chinesa Sun-Yat-Sen, particularmente dinâmico na sua acção para derrubar o último representante da dinastia Qing, facto que se concretizou em 1911.

Macau, A. 1, n. 1 (18 Jul. 1893)-a. 5, n.º 235 (17 set. 1899)

Semanário

Proprietário: Francisco H. Fernandes

Weekly newspaper that began its publication in 1893 by the hand of Francisco Hermenegildo Fernandes, who was the proprietor of one of the most important typographic industries of Macau: N. T. Fernandes e Filhos. Also led by other two significant intellectuals, Pedro Nolasco da Silva and Constâncio José da Silva, this newspaper presented an innovative quality: it was published both in Mandarin and in Portuguese, therefore allowing the two communities to read it. It also had the collaboration of the distinguished personality Sun-Yat-Sen, a Macanese doctor who got to be the president of the Chinese Republic, and who was incredibly dynamic in his actions to overthrow the last representative member of Qing dynasty in 1911.

Macau, Ano 1, no. 1 (July 18, 1893)-ano 5, no. 235 (Sept. 17, 1899)

Weekly

Property of: Francisco H. Fernandes


BNP - F.P. 115- colecção incompleta = A. 1, n. 1 (18 Jul. 1893)-a. 5, n.º 235 (17 Set. 1899) - Ficha bibliográfica

BCFLUP - colecção completa?

O Independente

Foi publicado, em Hong Kong, entre 18 de Setembro de 1869 e 24 de Julho de 1898. A sua longevidade foi notória, tendo em consideração que os periódicos de Macau tiveram invariavelmente uma duração curta devido a agudos conflitos de interesses. "Jornal político, noticioso e comercial", publicou-se de 1868 a 1898. Trinta anos de permanente intervenção crítica que custaram aos seus directores, José da Silva e, mais tarde, o seu filho, Constâncio José da Silva, detenções, condenações e o exílio em Hong Kong, cidade onde o jornal também foi publicado. Apresentou uma componente cultural de vulto, dando voz quer aos escritores consagrados portugueses – Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco (do qual estampou uma carta de grande interesse biográfico) –, quer a outros menos conhecidos. Na sua fase final, contou com a colaboração de Camilo Pessanha. Deu, em 1898, origem a um jornal cultural meritório, do qual apenas se conhecem dois números, dos setenta dados aos prelos: O Lusitano.

Macau, V. 1, no 1 (4 Set. 1868)-v. 17, no 8 (Out. 1897)

Directores: José da Silva (primeiro) e Constâncio José da Silva (mais tarde)

Independente's longevity was remarkable, if we take into account that the Macanese newspapers had invariably a very short life, sometimes due to conflicts of interest. The so named "Newspaper of political, news and commercial content" was published between 1868 and 1898. Those thirty years were years of permanent intervention from censure that cost its directors José da Silva and, later on, his son Constâncio José da Silva, detentions, condemnations and the exile in Hong Kong (place where this newspaper was also published). It presented a cultural component of great relevance, giving voice to famous Portuguese authors – Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco (from which a letter of great biographical interest was printed) – and other less known authors. In its final stage, Camilo Pessanha was also one of the writers who cooperated with the Independente. In 1898, from the Independente rose another praiseworthy cultural newspaper named O Lusitano – unfortunately, despite having been given 70 numbers to be printed, only two of these reached our days.

Hong Kong, V. 1, no 1 (Sept. 18, 1869) - vol. XVII, series IV, no. 46 (July 24, 1898)

Directors: José da Silva (first) and Constâncio José da Silva (later)


BNP - J. 3601 P. - Vol. 1, n.º 1 (4 set. 1868) – vol. 1, n.º 46 (20 jul. 1869); J. 2829 B. - Vol. 1, n.º 1 (18 set. 1869) – Supl. n.º 36 (31 maio 1870); J. 1686//5 V.; J. 708//8 A. e J. 3591 M. (reunidas), Vol. 1, n.º 2 (29 maio 1873); Vol. 5, n.º 168 (25 dez. 1882) ;Vol. 5, n.º 177 (21 fev. 1883) ; Vol. 7, n.º 277 (22 jan. 1885) ; Vol. 7, n.º 291 (30 abr. 1885) ; Vol. 11, n.º 1 (17 jan. 1889) ; Vol. 17, n.º 3 (26 set. 1897), Vol. 17, n.º 8 (31 out. 1897). Colecção incompleta = Hong Kong, V. 1, no 1 (18 Set. 1869) - vol. XVII, série IV, n.º 46 (24 jul. 1898) - Ficha bibliográfica

Ta-Ssi-Yang-Kuo: semanário macaense d'interesses públicos locaes, litterario e noticioso

Trata-se de um semanário publicado, em Macau, entre o dia 08 de Outubro de 1863 e 26 de Abril de 1866. Tendo sido fundado pelo advogado goês José Gabriel Fernandes e dirigido por António Feliciano Marques Pereira (funcionário e intelectual metropolitano), reuniu o escol intelectual de Macau. Iniciou a sua publicação em 1863 e prolongou-a por três anos, tendo sempre em consideração a qualidade e a isenção. A sua componente cultural foi notável, contando com a pena prolífica do historiador Marques Pereira. As raízes macaenses foram particularmente enfatizadas, sendo revelados documentos históricos importantes. As suas propostas políticas, pertinentes e construtivas, estavam em sintonia com as do governador Coelho do Amaral.

Macau, A. 1, n. 1 (8 Out. 1863) - a. 3, n. 30 (26 Abr. 1866)

Semanário

Fundador: José Gabriel Fernandes; Director: António Feliciano Marques Pereira

Founded by the Goan lawyer José Gabriel Fernandes and directed by António Feliciano Marques Pereira (Portuguese intellectual and worker). Within, it gathered the intellectual Macanese elite. Its publication started in 1863 and lasted for three years, always taking into consideration quality and exemption. Its cultural component was remarkable, for it took fruits from the prolific quill of historian Marques Pereira. Its Macanese origins were particularly highlighted, as it also revealed important historical documents. Its political proposals, which were constructive and pertinent, were also made according to ruler Coelho do Amaral.

Macau, Ano 1, no. 1 (Oct. 8, 1863)- Ano 3, no. 30 (Apr. 26, 1866)

Weekly

Founder: José Gabriel Fernandes; Director: António Feliciano Marques Pereira


BNP - J. 630 M. - projecto de digitalização – colecção completa = A. 1, n. 1 (8 Out. 1863)-a. 3, n. 30 (26 Abr. 1866) – Ficha bibliográfica

HML - N.º1 (8 Out. 1863)-n.º52 (29 Set. 1864). Digitalizado, brevemente em linha - ver online; ficha bibliográfica


































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